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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Bicicletas

No entanto...    

Na minha bicicleta de recados                                                 
eu vou pelos caminhos.
Pedalo nas palavras atravesso as cidades bato às portas das casas e vêm homens espantados                           
ouvir o meu recado ouvir a minha canção.
Na minha bicicleta de recados
eu vou pelos caminhos.
Vem gente para a rua a ver a novidade
como se fosse a chegada do João que foi à Índia
e era o moço mais galante que havia nas redondezas.
Eu não sou o João que foi à Índia
mas trago todos os soldados que partiram
e as cartas que não escreveram
e as saudades que tiveram
na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.
Desde o Minho ao Algarve                                       
eu vou pelos caminhos.
E vêm homens perguntar se houve milagre
perguntam pela chuva que já tarda
perguntam pelos filhos que foram à guerra
perguntam pelo sol perguntam pela vida
e vêm homens espantados às janelas
ouvir o meu recado ouvir a minha canção. Porque eu trago notícias de todos os filhos
eu trago a chuva e o sol e a promessa dos trigos                     
e um cesto carregado de vindima
eu trago a vida na minha bicicleta de recados
atravessando a madrugada dos poemas.  



(Manuel Alegre)

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